“O primeiro passo para as pessoas compreenderem que sem política nada funciona é entender o que é política”, diz o coordenador nacional das embaixadas Politize, Vinícius Zunino, ao se referir à Educação Política no Brasil. O ano é eleitoral e ainda muitos brasileiros encaram a política com extrema desconfiança. Uma pesquisa realizada entre 34 países pelo Pew Research Center, divulgada em fevereiro deste ano, aponta que 56% dos brasileiros estão insatisfeitos com a forma como a democracia funciona no país. Mesmo com esse descontentamento, muitos ainda não entendem o funcionamento político nacional e como podem agir de forma a influenciá-lo.
O sentimento negativo relativo à política pode ser uma barreira para quem busca conhecer mais sobre a área e um passo perigoso para o desenvolvimento de um radicalismo. “Política não é fácil, tem inúmeras variáveis e complexidades, é igual ao aprendizado de Matemática, quando você não entende os princípios a fundo, não se identifica com a matéria. Isso acaba contribuindo para termos pessoas resistentes ao tema e, com isso, não entendendo a política como de fato ela é, ou deveria ser”, explica Vinicius
E para que a insatisfação não atrapalhe o aprendizado, Vinicius esclarece que é necessário buscar valores comuns entre os interessados, como, por exemplo, o fortalecimento da democracia, o incentivo à cultura e a participação das pessoas na política. “No Politize, o qual faço parte, nós trazemos a educação política como uma defesa da democracia e dos valores democráticos. Prezamos pela pluralidade tanto de ideias como de pessoas e desenvolvemos a empatia entre elas. Além disso, incentivamos o protagonismo e o conhecimento para que todos os cidadãos e cidadãs compreendam a política em si, o papel dos poderes, dos cargos e as diferentes visões de mundo que existem. Então, eu acho que é fundamental, primeiro, termos parâmetros, valores, para tratar de um tema tão difícil e complexo que mexe com a emoção das pessoas. E é importante que todos respeitem e coloquem em prática esses valores”
A mestre em História Política, Rochelle Gutierrez Bazaga, analisa que o País tem avançado com relação à educação política, mas é preciso desenvolver esse aprendizado ainda mais. “A Educação Política deveria fazer parte do processo educacional, muitas vezes nós percebemos que não faz. Então, ainda é um desafio e reflete muito na sociedade, como um todo, nas questões relativas à transparência, fiscalização e até na forma como escolhemos os nossos candidatos”.
Um dos pontos principais para que isso aconteça é focar em uma maneira simplificada de levar a política para as pessoas. “Precisamos trazer a política em uma linguagem acessível para todo mundo e fazer uso de tecnologias para que esse ensino não seja maçante. Tem uma atividade nossa, que os multiplicadores desenvolvem, chamada Política e Democracia, em que, basicamente, a função é explicar para as pessoas o que é política e o que é democracia, pois muitos não têm ciência desses conceitos. A partir do momento que entendemos a política como um processo de construção e resolução de problemas, percebemos também que, a todo tempo, eu tenho influência nela de alguma forma”, completa Vinicius.
Outro ponto necessário dentro do processo de educação política é buscar a empatia, não ter medo de errar e reconhecer o erro para que sejam criados ambientes seguros para tal discussão. “A política é feita por pessoas, pessoas a constroem. Ela permeia a vida de todo mundo e qualquer pessoa, mesmo que inconscientemente, sempre vai reclamar de alguma coisa que a envolva, compreendermos isso é fundamental para construirmos uma nação em conjunto. Ou seja, se a política muitas vezes é falha, então precisamos refletir sobre nós mesmos, até que ponto eu não estou sendo falho com a minha política do dia a dia. A educação política é fundamental para dar coesão a um grupo de pessoas, coesão à nação em si, que queira discutir, em conjunto, quais são os caminhos a serem seguidos enquanto país”, continua.
“Quanto mais pessoas politizadas, que entendem como a educação política pode ser transformadora, menos corrupção nós teremos, menos desvios de recursos públicos e uma melhor aplicabilidade das nossas políticas públicas. Os benefícios são inúmeros, até mesmo, a inserção da comunidade como parte da política”, enfatiza Rochelle.
Educação Política em Uberaba
Rochelle alerta para a importância da atuação do legislativo nesse tema, muitas vezes apenas debatido em anos eleitorais. “O mandato é um instrumento de educação política, então, podem muito bem propagar, incentivar e, além disso, retomar projetos que já foram muito importantes na cidade, como Parlamento Jovem, que é voltado para jovens do Ensino Médio, e o Vereador Estudante, cujo público-alvo são estudantes do Ensino Fundamental. Mais do que isso, aliás, a câmara de vereadores da cidade tem uma escola do legislativo, criada por lei, e que deveria propiciar a formação de Educação Política não só de jovens, mas de todos, e hoje não é feito quase nada”, finaliza.
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